Vesuvius Challenge – lendo pergaminhos carbonizados com ajuda de tomografia computadorizada e IA

O Desafio de Vesúvio é promovido pela Universidade de Kentucky e tem como objetivo incentivar cientistas a desenvolverem algoritmos para escanear pergaminhos em papiro e transformá-los em imagens em alta resolução por meio de tomografia computadorizada e Inteligência Artificial.

O pergaminhos do desafio foram produzidos antes do ano 79, quando erupção do Vesúvio devastou a cidade de Pompéia e os incendiou:

Fonte: https://www.nature.com/articles/d41586-024-00346-8

Usando tomografia computadorizada, os pesquisadores conseguiram fazer o “desenrolamento virtual” dos papiros e, com ajuda de Inteligência Artificial, identificaram partes do texto:

Fonte: https://scrollprize.org/

“Papyrus scrolls can contain more than 200 columns of text, so we have to bear in mind that what we know about this text will be hugely increased by the next results of virtual unwrapping. That being said, we have the lucky opportunity to read the final columns of the scroll, where the author would often summarize the content of his work or introduce new topics that he would address in subsequent books of the same work,” Federica Nicolardi, assistant professor in papyrology at the Università degli Studi di Napoli Federico II, continued. (https://www.engr.uky.edu/news/2024/02/vesuvius-challenge-grand-prize-winners-announced)

Fonte:https://www.engr.uky.edu/news/2024/02/vesuvius-challenge-grand-prize-winners-announced

O desafio e todo o trabalho se desenrola no contexto do EduceLab, iniciativa de restauração digital:

What is EduceLab?

EduceLab is a highly specialized heritage science laboratory expertly designed to provide data-intensive yet object-centric solutions to the most challenging problems in the study of cultural heritage. Its unique ecosystem of non-destructive instrumentation offers key scientific capabilities that are crucial to addressing the challenging variability of heritage science contexts. These capabilities include:

  • Materials characterization
  • Advanced multimodal imaging (tomography, photography, photogrammetry) with gold standard bench equipment as well as a flexible, configurable prototype environment
  • Cyberinfrastructure and methodologies for capturing, structuring, processing, and mining large-scale data sets
  • Mobile and flexibly-deployed instrumentation for in-situ data acquisition and on-site evaluations

EduceLab comprises four operational clusters – BENCHMOBILEFLEX, and CYBER. Each one is based on usage patterns that match the needs of diverse heritage science communities.

Fontes:

https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/estado/2024/02/06/pergaminhos-de-2-mil-anos-sao-revelados-com-ajuda-de-ia-e-uma-revolucao-na-filosofia-grega.htm

https://scrollprize.org

https://www.nature.com/articles/d41586-024-00346-8

https://educelab.engr.uky.edu

Agentes tóxicos em acervos e plantas que ajudam a purificar o ar

Quem trabalha com acervos antigos está sujeito a diversos riscos de contaminação e intoxicação. Há riscos químicos, causado por compostos utilizados na conservação dos acervos, agentes externos ou por reações da decomposição do mobiliário e documentação. O risco biológico ocorrer por conta da proliferação de fungos e bactérias que encontram nos arquivos e bibliotecas um habitat favorável. Abaixo consta um quadro bem simplificado de alguns agentes tóxicos¹:

AGENTES TÓXICOS EM ARQUIVOS:

Contaminante Químico Ocorrência Efeito(s)
BHC (Hexaclorobenzeno ou Benzene Hexachloride) usado para combater pragas em arquivos e bibliotecas até meados dos anos de 1980 Causa intoxicação e é potencialmente cancerígeno. (fonte).
SO² (dióxido de enxofre), NO/NO² (óxidos de nitrogênio) e O³ (Ozônio) Os poluentes externos  são  gases que provocam reações químicas, com formação de ácidos que causam danos sérios e irreversíveis aos materiais. O papel fica quebradiço e descolorido; o couro perde a pele e se deteriora (CASSARES, p.17, 2000).
Formaldeídos Espuma de uréia-formaldeído presente em isolante térmico e acabamento de mobiliário. Carcinogênico
Material Particulado Inalável Poeira, fuligem, resíduo de fumaça, fibras têxteis e aerossóis alcalinos do concreto Aumento de doenças respiratórias e diminuição da função pulmonar
Dietilaminoetanol (DEAE) Anti-corrosivo usado em tubulações de vapor Irritações oculares e respiratórias, erupções cutâneas e problemas de saúde
Óxido de Etileno Fumigatório arquivos/coleções Câncer e Esterilidades
Para-Diclorobenzeno (PDB) Repelente de insetos Lesões no fígado, rins, anemia hemolítica, perda de peso, rinite, tumefação periorbitária (maior risco em pessoas com prédisposição a doenças hepáticas, renais, sanguíneas ou do Sistema Nervoso Central)
Naftalenos (Naftalina) Repelente de pragas Sudorese abundante, náuseas, insuficiência renal aguda, dores abdominais e de cabeça, hemólise das hemácias e efeitos carcinogênicos
Diclorvós (DDVP) Inseticida organofosforado para o controle de pragas Dores de cabeça, náusea, tonteira, tremores e cãibras musculares, salivação e desmaios e sensação de incômodo no peito. A exposição além do permitido acometeram sintomas de febre, cianose, coma, parada cardíaca, choque, insuficiência respiratória e edema pulmonar
Piretrinas Naturais e Piretróides Sintéticos* Inseticida de baixa toxicidade aos mamíferos (extraído de flores do Chrysanthemum cinerariaefolium), porém instável no meio ambiente Irritação cutânea, dermatite alérgica, dor de cabeça, náuseas, vômitos e zumbido no ouvido
Brometo de Metila (Bromometano )** Gás utilizado em fumigação para controle de pragas Irritação cutânea, olhos e trato respiratório. Efeitos agudos entre 30 minutos e 6 h: mal estar, distúrbios de visão, náuseas, dor de cabeça, vômitos, vertigens e tremores nas mãos. A alta exposição ao Brometo causa tremores generalizados, convulsões, coma e óbito.

Adaptado do “Quadro 4: Agentes Contaminantes Químicos” elaborado por Rogério Santana (p. 50, 2014).

Possibilidade de diminuição da contaminação a partir do uso de plantas

A NASA parece ter conduzido alguns estudos sobre o uso de plantas para diminuir a presença de contaminantes no ar (aqui, por exemplo), que deram origem a alguns infográficos populares na Internet, como esse:

Fonte

Seria possível aplicar algo deste estudo em arquivos, bibliotecas e museus? Há indicação de plantas úteis contra formaldeídos e benzeno, elementos que constam no quadro de agentes tóxicos em arquivos. A colocação de vasos de plantas em locais de armazenamento resultaria num indesejável aumento da umidade relativa do ar?

Uma ideia mais ambiciosa/fantasiosa seria tentar identificar plantas que reduzam o grau de contaminação de agentes químicos específicos de acervos e, quem sabe, até de agentes biológicos.

 

 

NOTAS

1 – Utilizei o termo “tóxico” para me referir genericamente a qualquer coisa que pode provocar risco a saúde do trabalhador e/ou ao acervo.

FONTES

CASSARES, Norma Cianflone. Como fazer conservação preventiva em arquivos e
bibliotecas. São Paulo: Arquivo do Estado e Impressa Oficial, 2000. Diponível em
<http://www.arqsp.org.br/arquivos/oficinas_colecao_como_fazer/cf5.pdf >.

LOVE THE GARDEN. NASA Guide to air-filtering houseplants, 2015

NASA. Interior landscape plants for indoor air pollution abatement, 1989.

NASA. Plants clean air and water for indoor environments, 2007

NASA Clean air study

SANTANA, Rogério.. Biossegurança em Biblioteconomia: uma abordagem para conservação de acervos, profissionais e usuários em bibliotecas/ Rogério Santana. – Rio de Janeiro,
2014. Disponível em: <http://www2.unirio.br/unirio/cchs/eb/TCCROGERIOSANTANA19DEZ2014.pdf>.